
Sérgio Murilo Pereira nasceu em Florianópolis e tem uma história cheia de idas e vindas, mas com uma paixão que nunca morria: o Aikidô.
Ele começou a estudar lutas com o Karatê, mas logo depois de chegar à faixa preta, descobriu o Aikidô. Foi paixão à primeira vista! Sérgiu sentiu no Aikidô algo que não via no Karatê: o trabalho com as energias. Ele começou a treinar com Pádua Sensei, em 2000, e acabou deixando o Karatê de lado.
Aqui, vou explicar para vocês uma diferença muito importante entre o Karatê e o Aikidô. Ambos são Budo (Bu – guerreiro; Do – caminho, ou seja, Caminho do Guerreiro) e surgiram no Japão, em locais diferentes.
Em relação às técnicas, os movimentos do Aikidô são circulares e seguem os ciclos naturais, como a água, os minerais, o vento. O Aikidô não tem competição, nem golpes de ataque. Seus movimentos são voltados somente para a defesa, harmonizando-se com a intenção de ataque para conseguir o controle da energia agressiva.
Já o Karatê reúne movimentos de ataque e de defesa, são mais precisos e repetidos continuamente para serem aperfeiçoados. A competição se tornou uma forma de propagar a prática pelo Japão e pelo resto do mundo.
A diferença é explicada por Altair Sensei, dessa forma: “o Karatê é linha reta e o Aikidô é circular”. Isso pesou na decisão de Sérgio. Quando foi para o Aikidô, ele passou a sentir essa diferença na energia (ki) e percebeu que no Karatê, não tinha trabalhado a energia, apenas a agressividade. Já no Aikidô, o trabalho com o ki era constante.
Ele prosseguiu seus estudos no Budo e quando se graduou faixa preta foi dar aula em uma academia em Biguaçu. Mas ele não se sentia satisfeito, pois não via nos alunos a vontade de aprender o Aikidô, e seis meses depois, deixou a academia. Nesse período, ele se formou na Universidade Federal de Santa Catarina, em Engenharia de Alimentos e foi trabalhar na empresa Sadia, em Concórdia, no Sul de Santa Catarina. Lá, ficou por um ano e deu aula de Aikidô em uma academia. Sérgio foi transferido para Toledo, no Paraná, e continuou a dar aulas.
Mas ele queria voltar para Floripa, sentia saudades de sua família, seus amigos e de praticar com seus colegas Aikidokas. Estudou para um concurso para o setor administrativo da Guarda Municipal e passou. Em Floripa, ficou um ano trabalhando na Guarda Municipal, voltou a treinar com os antigos colegas, mas desta vez com Ápio Sensei. Ainda insatisfeito com sua profissão, Sérgio passou em outro concurso, da Polícia Rodoviária Federal, e foi para Porto Alegre, para receber o treinamento.
Depois de formado, ele foi trabalhar no Pará. Não tinha desistido de ensinar Aikidô e acabou descobrindo uns tatames abandonados em uma academia de musculação. Sérgio viu ali uma oportunidade e pediu autorização para montar um Dôjô. Autorização dada, as aulas começaram e ele se empenhou no novo projeto. Ele continuava voltando a Floripa, sempre que dava e em um desses dias, descobriu que estava com câncer no cérebro.
Sérgio não voltou mais para o Pará. Começou o tratamento, fez cirurgia e depois de um ano, realizou um sonho: conhecer o Japão, em uma peregrinação pelos lugares importantes para o Budismo e para o Aikidô. Mas a doença tinha só dado uma trégua. Pouco depois de voltar, ele piorou e foi internado no hospital para um tratamento mais intensivo.
No hospital, ele se sentia inquieto para recomeçar a dar aulas de Aikidô. Queria trabalhar com as comunidades carentes, com Aikidô e fitoterapia. Sérgio comentava com seu amigo, Altair, que sentia essa necessidade de ajudar, de fazer trabalhos sociais.
Sérgio se inspirava muito em sua mãe. Ele era o filho mais novo de Maria Anunciação Pereira e tinha seis irmãos. Sua mãe, lavradora da região do Maciambu, em Palhoça, se alfabetizou com 66 anos de idade, mas desde menina criava poemas e os decorava para não esquecer, já que não podia escrever. Hoje, ela faz parte do Grupo de Poetas Livres, de São José, SC. Já publicou dois livros, e escreveu poemas para outras publicações, feitas em parceria com colegas poetas. Ela ainda declama seus poemas de cor e encanta a quem ouve. Sérgio sentia, no exemplo de sua mãe, a inspiração para trabalhar com esse lado social.
Foi um ano no hospital, alimentando esses sonhos. Sérgio desenhava e pintou quadros com bambus, um dos quais serviu de inspiração para a criação do logotipo do Instituto.
Mas Sérgio não teve tempo de realizar seus sonhos. Ele morreu em fevereiro de 2012 e seu sonho ficou em aberto. No dia seguinte a seu falecimento, seu amigo Altair, já Sensei de Aikidô e monge zen-budista, fez uma viagem. E durante o trajeto, ele desenhou um projeto no papel: ia criar um Instituto para realizar o sonho de Sérgio.
E a missão do Instituto se tornou mais que o sonho de Sérgio: o que ele inspirou, hoje respira, e multiplica ações de companheirismo, solidariedade e respeito.